Derrota e aprendizado

Compatilhar 21/06/2010 por Maria Alice Azevedo Marques Envie seu artigo! Clique aqui!

Mais do que continuar derrotado, o erro é insistir no mesmo caminho que repetidamente leva às mesmas frustrações. Pare de pensar na derrota, comece a pensar na vida

Por José Luiz Tejon

Aprender com as derrotas e com os erros, estar livre para tentar, ensaiar e correr riscos. Essa é a marca dos campeões. John Lennon, falando sobre o surgimento dos Beatles, ensina: “Foi em Hamburgo, na Alemanha, que se operou o milagre. Foi lá que realmente nos desenvolvemos. Para manter os alemães acesos e o astral alto, suávamos a camisa. Nunca teríamos aprendido tanto se tivéssemos ficado em casa. Tentamos tudo o que veio à nossa cabeça. Não havia ninguém para copiar. Em Hamburgo, tocamos como quisemos, erramos, fomos diferentes, mas aprendemos a ser nós mesmos!”

Em minha vida, a queimadura no rosto que tive aos três anos de idade foi uma bela saraivada de “gols contra o patrimônio”, tomados logo no início da partida. Com a constatação da impossibilidade de ficar “normal”, por exemplo, com uma cirurgia plástica, sempre vinha junto uma desilusão. No fundo, a peregrinação pelos hospitais concentrava o anseio de comprovar a possibilidade de uma recuperação muito boa. Voltar a ser como antes, isso motivava minha família na luta à procura por médicos. Quando meus pais e eu fomos constatando, com meu crescimento, que não tinha mais jeito de realizar esse anseio, uma sensação de derrota e desânimo tomou conta de todos nós.

No entanto, junto com essa âncora que ia ser abandonada já nascia um novo vôo. A música, a arte, o início de uma nova consciência e a excepcionalidade – tanto na minha quanto na sua vida – não estão mesmo do lado de fora. Viviam e vivem pulsantes no interior mais oculto de cada um de nós. A questão é só dar visibilidade a esse poder!

Foi lá do fim desse poço, do encerrar um ciclo, do dizer “Chega!, não tem mais hospital, não tem mais cirurgia plástica”, de eliminar o desejo de ser “normal” novamente que novas forças se instalaram dentro de mim. Aquela derrota eu não queria mais para mim. Mais do que continuar derrotado, o erro era insistir no mesmo caminho que repetidamente me levava às mesmas frustrações. Parei de pensar na derrota, comecei a pensar na vida. Passei a estudar mais, a aprender novas coisas, a ver como poderia me arrumar para gostar mais de mim mesmo e arranquei para o mundo.

Aprendemos com a derrota. Aprendemos a corrigir os pontos falhos e, com a insistência e a persistência na mesma derrota, a abandonar de vez um caminho fadado ao insucesso. Abrimos novas portas, e uma nova vida passa a existir para nós. A vitória e a derrota nos dão as grandes lições para sermos cada vez melhores e obter prazer com o poder de sermos nós mesmos aceitando e valorizando o “diferente” que vive em nós.

José Luiz Tejon é conferencista, autor do livro “O Vôo do Cisne” (Ed. Gente), professor da ESPM e da Fundação Getúlio Vargas, e Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie.



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