A diferença entre quem quer e quem não quer

Compatilhar 26/02/2011 por Alexafd Envie seu artigo! Clique aqui!

Por Rosana Braga

Outro dia li uma frase no livro Namorados para sempre, de Zig Ziglair, que me saltou aos olhos: “as atitudes precedem os sentimentos”. De certa forma, sempre acreditei em algo semelhante, apostando que os sentimentos precisam ser alimentados com atitudes coerentes.

Quem nunca se envolveu com alguém que vive dizendo que gosta, que está a fim, que quer ficar, mas… paralelamente… suas atitudes demonstram exatamente o contrário? A pessoa não cumpre o que combina, não tem gestos de carinho, diz que vai ligar e não liga, é nitidamente superficial e age como se o outro tivesse bem pouca importância?

Você acha que esta descrição deixou muito evidente que se trata de alguém que não quer assumir nada e nem é coerente com o que ele mesmo vive dizendo? Não conte com isso! Imediatamente depois de uma atitude que deixa claro o quanto não existe predisposição para viver um relacionamento, vem uma avalanche de palavras tentando nos convencer de que estamos equivocados, redondamente enganados, ou seja, promessas, juras de amor, pedidos de desculpas, propostas de recomeços e, enfim, está armada a arena dos loucos.

A quem é o alvo de tal contradição restam sentimentos como aflição, angústia, insegurança, sensação de que não tem nenhum motivo para continuar apostando nesta relação, mas ao mesmo tempo, o desejo de que – desta vez – quem sabe seja verdade.

Só mais uma chance, só mais uma vez. E de última em última, crescem somente as mágoas e a tristeza; a decepção e até a confiança em si mesmas. Porque essas pessoas insistem em desmentir sua própria intuição, sua própria percepção de que já acabou… ou que nunca nem existiu essa relação senão na idealização delas.

Até certo ponto, é compreensível, pois fica a questão: se ele fala tudo o que fala é porque deve haver algum sentimento. Se ele insiste e pede mais uma chance é porque talvez goste um pouquinho, e, se eu permitir, talvez consiga conquistá-lo desta vez. Ok… o talvez ainda é uma possibilidade. Talvez haja mesmo uma mudança de atitude, um comportamento diferente, mas certamente isso não acontecerá enquanto for mantida esta dinâmica confusa e desrespeitosa.

Por outro lado, pode ser que algumas pessoas assim nunca mudem, simplesmente porque é assim que aprenderam a se relacionar e não estão dispostas a se rever, por quaisquer que sejam seus motivos. Neste caso, é provável que precisemos sofrer duas, cinco ou até dez vezes o mesmo tombo até perceber que o problema não está na nossa maneira de caminhar e sim no caminho. Até nos darmos conta de que não temos que mudar nossos passos, e sim a direção.

Mas é incrível como existem pessoas que passam longos anos se machucando, vendo sua intuição se confirmar enquanto que seu desejo desaba, assistindo no camarote de sua vida a conquista de mais uma dor, de mais uma mentira, de mais uma decepção, sem tomar coragem para dar um basta nisso tudo.

Fácil? Não, certamente. Mas absolutamente possível, tenho certeza. Basta que se descubra o significado de um sentimento chamado auto-respeito. Respeitar-se é ter a convicção de que ninguém, a não ser você mesmo, pode acabar com uma circunstância que tem-lhe causado muito mais desgosto e vazio do que alegria e satisfação.

É preciso agir como quem age enquanto se livra de um vício qualquer. Repetir para si mesmo algo como o mote dos recuperandos: “somente hoje eu vou dizer não” e até marcar num calendário um círculo ao redor de mais um dia de respeito por si mesmo.

Até que chegará o momento em que a aflição terá terminado e você ficará com a sensação de que está, enfim, livre para apostar num outro tipo de relação. Aquele tipo em que as palavras ditas são coerentes com as atitudes tomadas… ou seja, em que o outro diz que quer… e age como quem quer, porque o amor definitivamente não pode ser enlouquecedor.

Rosana Braga é escritora, jornalista e consultora em relacionamentos afetivos.



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