Frenética Preguiça

Compatilhar 26/02/2011 por Alexafd Envie seu artigo! Clique aqui!

Belinha acordou as seis, arrumou as crianças, levou-as para o colégio e voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático em Artur, o marido, e de trocarem cheques, afazeres e reclamações.

Fez um supermercado rápido, brigou com a empregada que manchou seu vestido de seda, saiu como sempre apressada, levou uma multa por estar dirigindo com o celular no ouvido e uma advertência por estacionar em lugar proibido, enquanto ia por um minuto, ao caixa automático tirar dinheiro.

No caminho batucava ansiedade no volante, num congestionamento monstro, e pensava quando teria tempo de fazer a unha e pintar o cabelo antes que se transformasse numa mulher grisalha.

Chegando ao escritório, foi quase atropelada por uma gata escultural que segundo soube era a nova contratada da empresa para o cargo que ela Belinha fez de tudo para pegar, mas que apesar do currículo excelente e de seus anos de experiência e dedicação, não conseguiu

Pensou se abdômen definido contava ponto, mas logo esqueceu a gata, porque no meio de uma reunião ligaram do colégio de Clarinha , sua filha mais nova, dizendo que ela estava com dor de ouvido e febre.
Tentou em vão achar o marido, e como não conseguiu resolveu ela mesma ir ao colégio, depois do encontro com o novo cliente, que se revelou um chato, neurótico, desconfiado, e com quem teria que lidar nos próximos meses.
Saiu esbaforida e encontrou seu carro com o pneu furado.

Pensou em tudo que ainda ia ter que fazer antes de fechar os olhos e sonhar com um mundo melhor.
Abandonou a droga do carro avariado, pegou um táxi e as crianças.

Quando chegou em casa descobriu que tinha deixado a pasta com o relatório que precisava ler para o dia seguinte no escritório!
Telefonou para o celular do marido com a esperança que ele pudesse pegar os malditos papeis na empresa, mas continuava fora de área!
Conseguiu depois de vários telefonemas que um motoboy lhe trouxesse os documentos.
Tomou uma merda de banho, deu a droga do jantar para as crianças, fez a porcaria dos deveres com os dispersos e botou os monstros para dormir.
Artur chegou puto de uma reunião em São Paulo reclamando de tudo.
Jantaram em silencio.
Na cama ela leu metade do relatório e começou a cambalear de sono.
Artur a acordou com tesão a fim de jogo. Como aqueles movimentos estavam cada vez mais raras no casamento deles ela resolveu fazer um ultimo esforço de reportagem e transar.
Deram uma meio rápida e quando estava quase pegando no sono de novo sentiu uma apalpadinha no seu traseiro com o seguinte comentário:
– Ta ficando com a bundinha mole Belinha, deixa de preguiça e começa a se cuidar!!
– Belinha olhou para o abajur de metal e se imaginou martelando a cabeça de Artur até ver seus miolos espalhados pelo travesseiro!
Depois se viu pulando sobre o tórax dele até quebrar todas as costelas! Com alicate de unha arrancou um a um todos os seus dentes e depois deu-lhe um chute tão brutal no saco, que voou espermatozóide para todos os lados!

Em seguida usou a técnica que aprendeu num livro de auto ajuda:
Como controlar as emoções negativas. Respirou três vezes profundamente, mentalizando a cor azul e ponderou. Não ia nem valer a pena , não estamos nos USA não conseguiria uma advogada feminista caríssima que fizesse sua defesa alegando que assassinou o marido cega de tensão pré menstrual…
Resolveu agir com sabedoria.

No dia seguinte não levou as crianças no colégio, não fez um supermercado rápido, não brigou com a empregada.Foi para a academia e malhou 2 horas.
De lá foi para o cabeleireiro pintar o cabelo de acaju e as unhas de vermelho.
Ligou para o cliente insuportável e disse tudo que achava dele, da mulher dele, e do projeto dele. E aguardou o resultado de sua péssima conduta fazendo uma massagem estética que iria eliminar, em dez sessões, a gordura localizada.
Enquanto se hospedava num SPA  ouviu o marido desesperado tentar localiza-la pelo celular e descobrir porque ela havia sumido.
Pacientemente não atendeu.
E como vingança é um prato que se come frio mandou um recado lacônico para a caixa postal dele:
– A bunda ainda está mole. Só volto quando estiver dura.
– Um beijo,
– Da preguiçosa….
– ( extraído do  livro Este sexo é feminino/ Patrícia Travassos)



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