VOCE SABE LIDAR COM A SOLIDÃO?
Solidão é um sentimento de vazio e isolamento.
A solidão é mais do que querer uma companhia.
Na solidão necessitamos de algo que nos transforme mas que não sabemos o que é.
Durante um ano e meio morei sozinho. Quando eu chegava no aparthotel onde morava, depois de fechada a porta do quarto, não tinha o que fazer e a leitura era a minha melhor companhia.
Me acostumei a ler por solidão, longe de barulhos, algazarras de crianças, sons de musicas, barulhos de carros e vozes.
Solidão não é estar desacompanhado.
Muitas pessoas passam por momentos em que se encontram sozinhas, seja por força das circunstâncias ou por escolha própria.
Estar sozinho pode ser uma experiência positiva, prazerosa e trazer alívio emocional, desde que esteja sob controle do proprio indivíduo.
Em seu crescimento o ser humano começa um processo de separação ainda no nascimento, a partir do qual continua a ter uma independência crescente até a idade adulta.
Para sentir solidão, entretanto, o indivíduo passa por um estado de profunda separação.
Isto pode se manifestar em sentimentos de abandono, rejeição, depressão, insegurança, ansiedade, falta de esperança, inutilidade, insignificância e ressentimento.
Se tais sentimentos são prolongados eles podem se tornar debilitantes e bloquear a capacidade do indivíduo de ter um estilo de vida e relacionamentos saudáveis.
Se o indivíduo está convencido de que não pode ser amado, isto vai aumentar a experiência de sofrimento e o consequente distanciamento do contato social.
A baixa auto-estima pode dar início à desconexão social que pode levar à solidão.
As pessoas podem sentir solidão por muitas razões e muitos eventos da vida estão associados a ela. A falta de amizades durante a infância e adolescência ou a falta de pessoas interessantes podem desencadear não só a solidão, mas também a depressão.
Robson Crusoé e Ton Hanks no filme o Naufrago são exemplos de solidão que expondo a pessoa a um longo stress pode leva-la à loucura.
Muitas pessoas passam pela experiência da solidão pela primeira vez quando são deixadas sozinhas quando crianças.
Outro pensamento muito comum, embora temporário, ocorre em consequência de um divórcio ou a perda de algum relacionamento afetivo de longa duração.
Nesses casos, a solidão pode ocorrer tanto por causa da perda de outra pessoa quanto pelo afastamento do círculo social do qual ambos faziam parte, causado pela tristeza associada ao evento.
A perda de alguém provoca um período de lamentação, onde o indivíduo se sente sozinho mesmo na presença de outros.
A escola existencialista diz que cada pessoa vem ao mundo sozinha, atravessa a vida como um ser em separado e, no final, morre sozinho.
Anos atrás passei por um profundo sentimento de solidão. Era uma experiência emocional nova para mim. Meu pai teve um episódio de diabetes. Ele estava sem consciência, com 95 anos deitado numa maca, tremendo sem parar, 50 km distante de casa, de madrugada, num corredor de hospital, sem médicos, eu estava com celular sem bateria, não tinha ficha de orelhão, não tinha um telefone disponível, não podia deixá-lo sozinho para que não caísse da maca, não tinha ninguém para me ajudar, nem bombeiros, nem policia, nem família, nem médicos, ninguém, só eu e ele. Eu estava desesperadamente sozinho dentro de um prédio gigante arrastando uma maca para baixo e para cima.
Eu nunca tinha me sentido tão sozinho, tão impotente como naquele dia.
O Salmo 102:6-7 diz: “Sou semelhante ao pelicano no deserto; sou como a coruja das ruínas. Não durmo e sou como o passarinho solitário no telhado.”
Eu estava me sentindo isolado distante de socorro, de amigos e de parentes
Estava me consumindo pelo vazio pela angustia, pela aflição, pela impotência, com medo a morte que rondava meu pai naquele instante.
A palavra “solidão” em inglês, “loneliness” foi considerada a mais triste da língua inglesa. Seu som evoca tristeza.
Sentei-me no chão do hospital cansado de andar para lá e para cá sem saber a quem socorrer. Precisava ter alguém para falar e pedir socorro. Mas não tinha ninguém que pudesse me ouvir.
Naquele instante usei do único socorro que eu podia me recorrer e desfrutei de um tempo a sós com Deus, em meu desespero e aflição.
Eu me sentia profundamente só, totalmente desconectado de todo e sem qualquer relacionamento com pessoas ao meu redor.
A solidão é algo involuntário, não desejado. Ela provoca sentimentos de depressão
O estar só, a quietude, é algo voluntário, uma opção deliberada. Estar só é positivo, regenerador e chega a ser inspirador.
O Salmo 102 enfatiza esta diferença entre o estar só e a solidão.
O que um pelicano melancólico estaria fazendo no deserto? O seu verdadeiro lugar é no litoral próximo ao oceano, se refrescando com a água.
O que um mocho (coruja) solitário estaria fazendo ali? Este pássaro noturno vive sobrevoando as árvores da floresta ou no alto de postes telefônicos para avaliar a presa que está prestes a ser devorada.
E o que o pardal solitário estaria fazendo no telhado? Este pequeno pássaro é urbano que vive em comunidades das cidades. Onde houver pessoas ali encontraremos estes passarinhos.
Esses três pássaros são retratados fora de seu habitat, fora de seu ambiente. Seria compreensível que cada um experimentasse sentimentos insuportáveis de isolamento e solidão.
As escrituras também falam de pessoas que se sentiam absolutamente sozinhas, desesperadamente sozinhas. Eram pessoas solitárias embora estivessem todas perto de outras pessoas.
Jacó lutando com Deus no poço e na prisão. Moisés no deserto sozinho mesmo junto de 600.000 pessoas. Elias no Monte Carmelo fugido de medo da Jezabel. Jô assentado em cinzas buscando refrigério para suas chagas. Jonas preso dentro do ventre de um peixe, sem espaço, sem ar, só pensamentos. Jeremias no fundo do poço sem que ninguém o ouvisse. Jesus no Calvário, sozinho mesmo no meio da multidão que olhava seu martírio. Aqui podemos sentir o maior brado solitário do filho de Deus : “Por que Me abandonaste?” (Mateus 27.46).
No Salmo 73, Asafe que era o compositor e líder do coral de Davi, fala de sua luta contra a solidão quando a vida lhe parecia por demais injusta.
No auge de seus desapontamentos e sua crise de fé ele escreve esse Salmo que também pode proporcionar a cada um de nós o conforto durante solidão:
A presença de Deus – “Contudo, sempre estou contigo; tomas a minha mão direita e me susténs” (verso 23).
A proteção de Deus – “Tu me diriges com o teu conselho, e depois me receberás com honras” (verso 24).
Deus – “E na terra, nada mais desejo além de estar junto a Ti” (verso 25).
Pode ser que você esteja passando por um tempo de solidão neste momento, em seu trabalho ou em seu lar.
Pode ser que em algum momento de sua vida você se sinta desorientado ou abandonado, sem um único amigo em quem se apoiar. Lembre-se da promessa de Deus: “Nunca o deixarei; nunca o abandonarei” (Hebreus 13.5).
E se você sabe de alguém que esteja vivenciando momentos de intensa solidão ofereça a ajuda desses textos sagrados porque vão ser úteis aos solitários em seus mais diferentes estágios de depressão.
Lembre-se que todos nós, eu e você enfrentamos ou enfrentaremos em algum momento algum grau de solidão mesmo que ela não seja tão aguda.
O salmista usa de certa ironia quando fala do pelicano e do mocho estando eles no deserto ou o do pardal no telhado.
Todos estavam em lugares que não eram deles, eles estavam em ambientes que não lhe pertenciam. O mesmo acontece com você quando você está “deslocado” cheio de duvidas, angustias e mágoas.
Guarde no seu coração essa verdade: Onde você estiver, no meio de uma decisão difícil, no meio do temporal, no meio da dor, da angustia, do martírio, no corredor do hospital ou num conflito conjugal, no escritório de trabalho ou fechado no seu quarto entre lágrimas nos travesseiros você sempre pode encontrar Deus ali no meio de sua solidão
Que Deus seja louvado
Joel Carreiro